Artigo: Ergonomia e competitividade no trabalho




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As mudanças tecnológicas e as novas técnicas de gestão dos negócios, têm causado várias alterações nos métodos e processos de produção. Para acompanhar estas mudanças, é necessário proporcionar aos funcionários/colaboradores condições adequadas para que estes possam exercer suas tarefas e atividades com conforto e segurança. Desta forma, é necessário projetar o posto de trabalho e, organizar o sistema de produção com concepção ergonômica.

Tendo como premissa que a conquista da qualidade dos produtos ou serviços e, o aumento produtividade, só será possível com a qualidade de vida no trabalho, o projeto ergonômico do posto de trabalho e do sistema de produção não é mais apenas uma necessidade de conforto e segurança, e sim, uma estratégia para a empresa sobreviver no mundo globalizado.

Os profissionais de Segurança e Medicina do Trabalho, (engenheiros de segurança do trabalho, médicos do trabalho, técnicos de segurança, enfermeiros do trabalho e fisioterapeutas), devem estar plenamente conscientes, capacitados e habilitados para utilizarem a Tecnologia Ergonômica em toda a sua plenitude (multidisciplinaridade e abrangência), para proporcionar as organizações empresarias e governamentais, meios de adequar ergonomicamente as condições de trabalho, como forma de proporcionar qualidade de vida no trabalho tanto em ambientes industriais, quanto em ambientes administrativos.

Neste artigo procuramos mostrar a história e evolução da ergonomia, a importância da ergonomia nos dias atuais e no futuro, bem como, a evolução dos enfoques ergonômicos dos projetos de postos de trabalho, e também, a abrangência específica de cada projeto com seu respectivo enfoque.

2. Considerações Gerais

Tendo em vista o processo de desenvolvimento pelo qual passa os setores industriais e de serviços em nosso país com o processo de automação e informatização, a adequação ergonômica dos postos de trabalho e do sistema de produção são necessidades imediatas.

Com o processo de globalização que estamos vivenciando, a empresa para sobreviver precisa tornar-se competitiva, portanto é necessário que ela modernize seus recursos técnicos (máquinas, equipamentos, ferramentas métodos e processos de produção), qualifique e capacite seus recursos humanos (funcionários / colaboradores) e proporcione boas condições de trabalho aos mesmos.

A produtividade e a qualidade do produto ou do serviço, está diretamente ligada ao posto de trabalho e ao sistema produtivo, e estes, deverão estar ergonomicamente adequados aos funcionários / colaboradores, para que estes possam realizar suas tarefas com conforto, eficiência e eficácia, sem causar danos a saúde física, psicológica e cognitiva.

Tendo como premissas que os profissionais da segurança e saúde do Trabalho, são os responsáveis pela pela gestão da qualidade de vida dos funcionários / colaboradores de uma empresa, portanto, devem interagir e integrar com os profissionais da gestão da produção e da gestão administrativa, para juntos vencerem os desafios do presente e planejar o futuro das organizações.

O futuro das organizações dependerá cada vez mais da criatividade e da participatividade dos funcionários/colaboradores na solução dos problemas e, isto só será possível, se o ambiente de trabalho estiver ergonomicamente adequado.

O que temos observado na maioria das empresas brasileiras, especialmente as empresas do setor industrial, é um total descaso para com as condições de trabalho e, consequentemente, com a qualidade de vida dos funcionários / colaboradores.

Somente em algumas empresas multinacionais ou transnacionais, como estão sendo denominadas atualmente , e em algumas grandes empresas nacionais, a Ergonomia esta sendo utilizada como ferramenta para melhorar a eficiência e eficácia dos funcionários / colaboradores nos postos de trabalho.

Vale salientar que a questão ergonômica em uma empresa não se restringe a realizar a Análise Ergonômica para atender a NR-17 de Ergonomia do Ministério do Trabalho, como muitos profissionais da área de Segurança e Medicina do Trabalho acretidam e conhecem e, muito menos, restrita a prevenção das LER/DORT.

A percepção restritiva e obtusa em relação ao carater multidisciplinar da Ergonomia pode ter contribuido (ou ainda estar contribuindo) para que muitos profissionais de Segurança e Medicina do Trabalho tenham ficado relegados em segundo plano em suas empresas, para as quais, os SESMETS não passam de centros de despesas e custos, portanto, não recebem investimentos e inovações.

Em nossa opinião, os profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho, necessitam conhecer melhor a ciência Ergonomia, e utilizar os recursos da Tecnologia Ergonômica em suas empresas, não só para proporcionar melhores condições de trabalho, mas também, contribuir para melhoria contínua dos novos métodos de gestão da produção e da gestão administrativa.

A Ergonomia deve estar presente nas mais diversas áreas da empresa, especialmente nos SESMETS e que deverá estar interagindo e se integrando na Gestão da Qualidade, pois a busca da Qualidade Total, passa necessariamente pela Qualidade de Vida no Trabalho.

3. Breve Histórico da Concepção Ergonômica de Posto de Trabalho

Historicamente o projeto do posto de trabalho surgiu antes da Ergonomia, ou seja, surgiu com o trabalho, e este, como sabemos, é tão antigo quanto a humanidade.

A Ergonomia como ciência teve suas origens em estudos e pesquisas na área da Fisiologia do Trabalho, mais especificamente na fadiga e no consumo energético provocado pelo trabalho. Estes estudos tiveram como objetivo diagnosticar os problemas que causavam a fadiga no trabalho e, consequentemente, procurar soluções que pudessem eliminar e / ou minimizar a fadiga no trabalho.

Na Inglaterra, durante a I Guerra Mundial (1914 à 1917), fisiologistas e psicólogos foram chamados para colaborar no setor industrial, como recurso para aumentar a produção de armamentos com a criação da Comissão de Saúde dos Trabalhadores na Indústria de Munições, em 1915. Com o fim da guerra, esta comissão foi transformada no Instituto de Pesquisa da Fadiga Industrial, que, por sua vez, realizou diversas pesquisas sobre o problema da fadiga na indústria.

Em 1929, com a reformulação do Instituto de Pesquisa da Fadiga Industrial, que se passou a chamar Instituto de Pesquisa Sobre Saúde no Trabalho, o campo de atuação e abrangência das pesquisas em Ergonomia foi ampliado. Nele foram realizados pesquisas sobre posturas no trabalho e suas conseqüências, carga manual e esforço físico, seleção e treinamento de trabalhadores, bem como, foram analisados as conseqüências das condições ambientais ( iluminação, ventilação e etc.) na saúde e no desempenho do indivíduo no trabalho, delineando deste então a necessidade de agregação de conhecimentos interdisciplinares ao estudo do trabalho.

Na II Guerra Mundial (1939 à 1945), com a utilização de equipamentos e instrumentos bélicos, de concepção complexa e de alta tecnologia, exigia dos operadores habilidades acima de suas capacidades e em condições ambientais desfavoráveis e tensas no campo de batalha.

Em função do elevado número de problemas encontrados decorrentes da inadequação ergonômica nos projetos de design dos equipamentos, instrumentos, painéis e consoles de operação, os esforços foram redobrados para adequar estes produtos as necessidades operacionais, a capacidade e limitações dos usuários (pilotos, controladores e operadores), objetivando a melhoria no desempenho, redução da fadiga e dos acidentes.

Nascia ai as primeiras aplicações práticas da ergonomia na concepção de projetos de design de produtos e postos de trabalho.

O projeto de design do posto de trabalho torna-se ergonômico na medida em que os conhecimentos científicos relativos ao homem são utilizados na concepção do projeto de design, com vistas a reduzir a fadiga física, facilitar a operação dos equipamentos e instrumentos, proporcionar segurança, eficiência e eficácia.

Nos dias atuais o que estamos percebendo é que a maioria dos problemas ergonômicos estão exatamente onde sempre estiveram, ou seja, no projeto das máquinas, dos equipamentos, das ferramentas, do mobiliário e do posto de trabalho e, evidentemente, agravados pelas inadequações relativas a organização do trabalho.

Desta forma, se não houver a adaptação ergonômica do projeto do posto de trabalho os problemas ergonômicos continuarão a existir. Estes problemas podem ser minimizados com ações paleativas (ginástica laborativa, pausas durante a jornada de trabalho, redução da jornada de trabalho, rotatividade de tarefas e etc. ), mas, jamais eliminados em sua totalidade, pois com estas ações, não se combate a causa, e sim o efeito. Por este motivo, é que se deve aplicar os conhecimentos ergonômicos na concepção do projeto dos postos de trabalho, das máquinas, das ferramentas, do mobiliário e, até mesmo no planejamento da organização do trabalho.

4. ERGODESIGN: O Projeto Ergonômico do Posto de Trabalho

Posto de Trabalho: é definido como a menor unidade produtiva em um sistema de produção. O posto de trabalho envolve o homem, seu local de trabalho, e toda ajuda material que o indivíduo necessita para realizar suas tarefas, abrangendo: máquinas, ferramentas, equipamentos, mobiliário, softwares, sistemas de proteção e segurança, EPIs e o próprio sistema de produção. O projeto do posto de trabalho tem basicamente dois enfoques historicamente conhecidos; o enfoque taylorista e o enfoque ergonômico tradicional e, com o advento da automação, informatização e dos novos sistemas de gestão dos negócios, estamos conceituando neste artigo o enfoque ergonômico global. A seguir apresentamos a definição e a abrangência dos enfoques ergonômicos dos postos de trabalho:

Enfoque Taylorista: é baseado no estudo dos movimentos corporais para realizar uma tarefa e no tempo gasto em cada um desses movimentos. O melhor método de trabalho é escolhido pelo menor tempo consumido na realização das tarefas. O enfoque taylorista não leva em consideração as características físicas e psicológicas dos usuários / operadores, muito menos, as necessidades individuais dos mesmos.

Enfoque Ergonômico Tradicional: é baseado no princípio da redução das exigências biomecânicas no intuito de minimizar a fadiga física, ou seja, leva em consideração os limites e capacidades do indivíduo do ponto de vista da biomecânica ocupacional e, as características antropométricas dos usuários / operadores. No enfoque ergonômico tradicional, o posto de trabalho é considerado um prolongamento do corpo humano, visto que este trata apenas dos fatores físicos do posto de trabalho. O enfoque ergonômico tradicional é aplicado na concepção e/ou adaptação de postos de trabalhos tradicionais.

Enfoque Ergonômico Global: segue os mesmos princípios do enfoque ergonômico tradicional, abrangendo ainda os aspectos psicológicos e cognitivos do indivíduo, bem como, os sistemas de produção (incluindo os hardwares e softwares). No enfoque ergonômico global, o posto de trabalho é considerado um prolongamento do corpo e da mente humana, pois trata além dos fatores físicos do posto de trabalho, os aspectos cognitivos (na interface homem x máquina e processo de produção ), bem como, as relações pessoais e motivacionais no ambiente de trabalho. O enfoque ergonômico global é aplicado na concepção e / ou adaptação de postos de trabalho e/ou ambientes de trabalho informatizados e automatizados em ambientes industriais e administrativos.

5. O Projeto Ergonômico: Tipos e Abrangência

Apresentamos a seguir, os tipos e abrangência dos projetos tanto no seu enfoque ergonômico tradicional, quanto no seu enfoque ergonômico global.

5.1 Projeto Ergonômico de Posto de Trabalho Tradicionais
Nos postos de trabalho tradicionais considera-se apenas os aspectos antropométricos (dimensões adequadas aos usuários de uma determinada faixa de estatura) e os aspectos biomecânicos (posturas, movimentos corporais, esforços físicos, alcances visuais, etc.).

5.2 Projeto Ergonômico de Posto de Trabalho Global
Nos postos de trabalho informatizados e automatizados considera-se, além dos aspectos antropométricos e biomecânicos, os aspectos psicológicos e cognitivos no trabalho, bem como, os aspectos operacionais (métodos e processos de produção, softwares, etc.), os aspectos organizacionais (normas de produção, horários, pausas, etc.) e ainda os aspectos ambientais ( iluminação, ruído, temperatura, ventilação, qualidade do ar, e etc. ). O enfoque ergonômico global funciona como um processo de engenharia simultânea para desenvolvimento do projeto ergonômico, onde tudo se integra e interage.

6. Objetivos do Projeto Ergonômico

Qualquer que seja a abrangência e enfoque do projeto ergonômico do posto de trabalho, estes devem atingir os seguintes objetivos:

- Adequar o posto de trabalho aos limites e capacidades do indivíduo (física, psicológica e cognitivamente).

- Otimizar as condições de trabalho para conquistar eficácia, eficiência, produtividade e qualidade.

- Proporcionar condições para desenvolvimento da criatividade e participatividade dos funcionários/colaboradores.

- Evitar o erro humano, prevenir acidentes e doenças ocupacionais;

- Proporcionar conforto, segurança, qualidade de vida, bem-estar e satisfação no trabalho.

7. Conclusão

As empresas que tem como meta tornarem-se competitivas para sobreviver no mercado globalizado, devem se utilizar da Ergonomia como estratégia para otimizar as condições de trabalho e diminuir as influências nocivas a saúde física e mental dos funcionários / colaboradores, e também, proporcionar meios para que estes possam ser criativos e participativos em suas organizações.

Os profissionais de segurança e saúde do Trabalho, devem se preparar para os problemas do presente e se capacitar para os desafios do futuro, onde a Ergonomia será sua principal ferramenta para integração e interação com os setores produtivos e administrativos de suas organizações.
O projeto ergonômico do posto de trabalho (tradicional ou global) será uma necessidade do ponto de vista social pois leva em consideração a saúde física, psicológica e cognitiva do indivíduo), portanto de interesse dos governos; e do ponto de vista econômico (pois terá meios de produzir mais e com melhor qualidade), o que é de interesse da empresa e dos empresários.

Com a futura ISO 18.000 que trata de Saúde e Segurança, que em breve estará aportando em nosso país, exigirá das empresas um amplo programa de melhorias de condições de trabalho e de qualidade de vida no trabalho, e a Ergonomia, mais uma vez, será utilizada para suprir esta nova demanda, onde o projeto ergonômico do posto de trabalho será o foco central da questão.

Desta forma, a tecnologia ergonômica e o projeto ergonômico do posto de trabalho, deverá proporcionar uma contribuição importante aos governos e as empresas para harmonizar a relação entre o capital e trabalho, e também, será um ítem de vital importância para a melhoria da qualidade e da competitividade das empresas no mundo globalizado.

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