Estudo sobre os fatores de risco das algias de coluna vertebral




          A terminologia "dor nas costas" é utilizada para designar queixas de desconforto ou dor crônica na região da coluna vertebral. Estes sintomas também podem ser descritos através de terminologias como lombalgia ou dor lombar, embora estes termos se refiram especificamente à região lombar, que é a mais freqüentemente afetada pela dor. (1).

          A dor nas costas, especialmente a dor lombar baixa, constitui causa freqüente de morbidade e incapacidade, sendo sobrepujada apenas pela cefaléia na escala dos distúrbios dolorosos que afetam o homem. Em alguma época da vida, de 70 a 85% de todas as pessoas sofrerão um episódio de dor nas costas. No entanto, quando do atendimento primário por médicos não-especialistas, para apenas 15% das lombalgias e lombociatalgias, se encontra uma causa específica. (2).

          A procura por tratamento de dores na coluna vertebral aumenta a cada dia. A demanda em hospitais e clínicas ocasiona um aumento no custo de despesas com cuidados com a saúde. O custo de tal demanda é um ônus a mais para os cofres públicos e privados, pois o governo, as indústrias e a sociedade devem arcar com as despesas. É grande a quantidade de tempo e recursos gastos com os pacientes portadores deste tipo de morbidade. (3).

          As dificuldades do estudo e da abordagem da dor na coluna vertebral decorrem de vários fatores, dentre os quais, podem ser mencionados a inexistência de uma fidedigna correlação entre os achados clínicos e os de imagem; ser a coluna vertebral um segmento inervado por uma difusa e entrelaçada rede de nervos, tornando difícil determinar com precisão o local de origem da dor, exceto nos acometimentos radículo-medulares; pelo fato das contraturas musculares, freqüentes e dolorosas, não se acompanharem de lesão histológica demonstrável (4).

          As dores na coluna vertebral podem ser primárias ou secundárias, com ou sem envolvimento neurológico. Por outro lado, afecções localizadas neste segmento, em estruturas adjacentes ou mesmo à distância, de natureza a mais diversa, como congênitas, neoplásicas, inflamatórias, infecciosas, metabólicas, traumáticas, degenerativas e funcionais , podem provocar dor (5).

          A lombalgia idiopática , antigamente assim chamada, pois não se achava um substrato para sua causa e que hoje é denominada de lombalgia mecânica comum ou lombalgia inespecífica, é a forma anátomo-clínica inicial de apresentação e a mais prevalente das causas de natureza mecânico-degenerativa (4).

          Condições emocionais podem levar à dor nas costas ou agravar as queixas resultantes de outras causas orgânicas preexistentes. Entretanto, freqüentemente a dor não decorre de doenças específicas, mas sim de um conjunto de causas (7).

          Segundo a Organização Mundial de Saúde (8), existem vários fatores de risco associados com a dor nas costas, e estes podem ser divididos em fatores de risco individual e fatores de risco profissional. Assim, pode-se relatar que, são consideradas como os mais prováveis fatores de risco individual a idade, o sexo, o índice de massa corporal, o desequilíbrio muscular, a capacidade de força muscular, as condições sócio-econômicas e a presença de outras patologias. Os traumas mais freqüentes sobre a coluna vertebral de origem laboral estão associados à tensão da musculatura paravertebral, decorrentes de posturas incômodas e da degeneração precoce dos discos intervertebrais pelo excesso de esforço físico (8).

          Estão também envolvidos no risco profissional as movimentações e posturas adotadas pelo trabalhador por exigência específica da tarefa ou decorrentes de inadequações no ambiente de trabalho e/ou das condições de funcionamento dos equipamentos disponíveis, além das formas de organização e execução do trabalho (9).

          Entretanto, o tipo mais freqüente de dor nas costas tem caráter não específico, sendo decorrente de uma doença indeterminada e associada freqüentemente com a postura, levantamento de objetos pesados e movimentos lesivos de origem laboral ou não laboral (8).

          A dor crônica relacionada a problemas degenerativos, como a artrose, freqüenta 65% das pessoas adultas. Assim, as dores na coluna, lombalgias e cérvico-dorso-lombalgias têm sido consideradas como enfermidades sociais. No entanto, vários de seus aspectos etiológicos são desconhecidos, o que tem favorecido uma abordagem diversificada para a compreensão do problema, dentre eles o enfoque dos fatores de risco. A abordagem epidemiológica de fatores de risco tem sido um enfoque muito utilizado na compreensão dos processos mórbidos, especialmente da coluna e na atenção a saúde (10).

OBJETIVOS

          O objetivo deste estudo foi identificar os fatores de risco relacionados ao surgimento das dores na coluna vertebral em uma amostra atendida em um serviço de fisioterapia. Também foi objetivo do estudo descrever as características dos sujeitos avaliados nos seguintes aspectos: demográficos (idade, sexo, situação conjugal); sócio-econômicos (grau de escolaridade, ocupação, renda familiar); avaliação global de saúde (percepção do nível de saúde, medicação, depressão, ansiedade, preocupação excessiva com doenças, horas de sono, dificuldade para dormir); ergonômicos (jornada de trabalho, tempo de permanência em posturas estáticas, realização de movimentos bruscos durante atividades no lar); subjetivos (intensidade e local da dor, nível de cansaço atual, restrição da vida social e íntima, satisfação laboral); nutricionais (índice de massa corporal, relação cintura-quadril); comportamentais (nível de atividade física) e relacionar as características avaliadas nos indivíduos com a dor na coluna.

          Com isso, a abordagem de fatores de risco com uma metodologia em que se busca a gênese do processo saúde-doença, colocando-se como estimuladora de ações educativas, preventivas e no tratamento das algias de coluna, contribui para formação de um conhecimento aprofundado das situações de risco capazes de gerar danos, podendo beneficiar os indivíduos portadores desse tipo de morbidade.

METODOLOGIA

           Este estudo se caracteriza por ser do tipo descritivo, transversal, com uma abordagem quantitativa. A população constitui todos os pacientes atendidos no setor de ortopedia e traumatologia da Clínica Escola de Fisioterapia Hospital São Vicente de Paulo – UNICRUZ e Clínica Escola de Fisioterapia Hospital da Guarnição Cruz Alta - UNICRUZ que apresentaram como queixa principal dor na coluna vertebral.

          A amostra foi escolhida aleatoriamente, onde foram incluídas na pesquisa somente as pessoas com idade mínima de 18 anos e máxima de 65 anos, em tratamento fisioterapêutico e com sintomatologia dolorosa superior a 20 dias, mesmo apresentando remissão ou exacerbação desse sintoma. Foram analisados apenas os pacientes encaminhados ao setor de ortopedia e traumatologia, prescrito com um número mínimo de 10 de sessões. Os pacientes neurológicos ou os encaminhados a qualquer outro setor foram excluídos desta pesquisa, bem como todos os que não se enquadraram nesses critérios.

          Os estudos foram conduzidos através de entrevistas, procurando evidências a favorecer uma inferência causal. Com um delineamento dinâmico baseando-se em casos que ocorreram durante o período de observação. Os pacientes foram informados da pesquisa, bem como de seus objetivos e procedimentos a serem realizados, e questionados sobre seu interesse de participação. A confirmação de interesse e disponibilidade de parte livre e esclarecida dos 15 indivíduos selecionados foi homologada por meio de um termo de consentimento e esclarecimentos de questões possivelmente não abordadas por esse termo.

          Para a mensuração da dor foi utilizada a escala visual analógica, que consiste de uma linha horizontal de dez centímetros, não numerada, indicando em uma extremidade a marcação de "ausência de dor", e na outra, "pior dor imaginável". Após a marcação realizada pelo paciente foi conferido o valor numérico de zero a dez e a expressão de leve (0-2,5), moderada (2,6-7,4) ou severa (7,5-10) correspondente à marcação.

          O índice de massa corporal foi obtido através da massa corporal referida em quilogramas dividido pela estatura referida em metros ao quadrado. O índice de massa corporal é uma medida indireta da condição nutricional e composição corporal, é considerado um método simples e preciso, indicado pela Organização Mundial de Saúde para estudos populacionais. Quando o índice esteve entre 25 e 29,9 Kg/m² o sujeito foi classificado no estado de sobrepeso; quando o índice esteve maior de 30 Kg/m² o sujeito foi considerado obeso (11).

          A relação cintura-quadril foi obtida pela divisão do perímetro da cintura pelo perímetro do quadril, essa relação tem sido utilizada com freqüência como indicador de deposição de gordura na região central. O perímetro da cintura foi obtido na região de menor perímetro do abdome, imediatamente acima da prega umbilical. O perímetro do quadril foi obtido ao nível dos pontos trocantéricos direito e esquerdo, abordando a parte mais proeminente da região glútea. A medida foi realizada com o uso de uma fita métrica paralelamente ao solo, estando o indivíduo em pé. A relação superior a 0,95 para homens e 0,85 cm para mulheres pode representar um risco aumentado para a saúde (12).

          Os dados obtidos na aplicação do questionário internacional de atividade física foram somados para cada domínio de atividade (trabalho, transporte, casa, lazer e tempo sentado). O valor de cada domínio foi somado e assim calculado o tempo de toda atividade física realizada em minutos por semana. Os sujeitos que relataram não trabalhar, não tiveram seus dados considerados nesta esfera. Para determinar a porcentagem da amostra que realizava atividade física dentro da recomendação atual foi calculada a somatória de pelo menos 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada. Para atividade física vigorosa o critério foi de pelo menos 60 minutos por semana.

          O tempo dedicado a responder o questionário foi em torno de 35 minutos. Os dados coletados foram analisados com a utilização da estatística descritiva, através do software Microsoft® Excel 2002. As variáveis quantitativas foram descritas e tabuladas em função de sua porcentagem, média e desvio padrão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

          A média de idade observada na amostra foi de 45 anos, sendo a idade mínima de 18 anos e a máxima de 62 anos, com desvio padrão de 15,7. A faixa etária média está ligeiramente acima dos estudos de Alexandre (13), pois segundo esse autor a freqüência de dor na coluna vertebral é maior na faixa dos vinte aos quarenta anos, comprometendo a população em idade economicamente ativa.

          Quando a exposição a determinado fator é persistente, o risco de adquirir a doença cresce com tal acúmulo, sendo assim, o agravo que lhe é associado cresce à medida que a idade avança. É possível observar a tendência do grupo estudado em desenvolver doenças crônicas em razão da amostra dispor de 11 indivíduos (73%) com idade superior a quarenta anos. Com o aumento da idade houve um aumento da prevalência de dor na coluna, o que é sustentado por várias pesquisas (14). A faixa etária de maior risco foi de 50 a 59 anos, o que está de acordo com a literatura (15).

          O risco aumentado nesta faixa de idade pode dever-se ao fato de que os processos degenerativos podem estar bem avançados, trazendo como conseqüência o desgaste das estruturas ósteo-musculares e orgânicas (16). Além disso, a maioria das pessoas nesta faixa encontra-se, apesar de próximos da aposentadoria, ainda trabalhando.

          Quanto ao gênero, 10 sujeitos da amostra (67%) eram mulheres e destas 8 (80%) estão em situação ativa de trabalho. Esses dados estão de acordo com os estudos de Rocha (17), que afirma serem as mulheres mais suscetíveis à dor nas costas devido à "dupla jornada de trabalho", pois a inserção da mulher no mercado de trabalho não a liberou completamente dos cuidados da casa e dos filhos, o que resulta em desgaste físico adicional. Além disso, as exigências da tarefa para as mulheres trabalhadoras são consideradas fatores de risco para o desenvolvimento de dores nas costas. A mulher tem menor número de fibras musculares e menor capacidade de converter glicogênio em energia, além de outras diferenças antropométricas em relação ao homem que implicam em uma área de função reduzida (18).

          Ser casado esteve associado à dor na coluna, 10 indivíduos (67%), o que está de acordo com a pesquisa de Lee et al (19). Provavelmente, situação conjugal não seja um fator de risco, mas um marcador de risco, podendo estar relacionada, por exemplo, a maiores exposições ergonômicas no trabalho/domicílio ou a características comportamentais de risco.

          Os dados desse estudo revelam que 8 (53%) dos entrevistados não concluíram o ensino médio, indicando um baixo nível de escolaridade. Estes dados estão de acordo com os estudos de Sampaio (20). Segundo esse autor os trabalhadores com um nível de escolaridade mais elevado se encontram mais informados quanto aos seus direitos, portanto menos dispostos a aceitar um trabalho em condições insalubres. A escolaridade determina a inserção do trabalhador no processo produtivo e são as diferenças nesse processo que resultam em maior ou menor número de danos à saúde do trabalhador.

          A respeito da ocupação ou situação atual dos indivíduos entrevistados, 12 (80%) estão ativos e 3 (20%) aposentados sem qualquer vínculo empregatício. De acordo com Monteiro et al (21), os acidentes de trabalho tipo lombalgias acometem mais profissionais que se enquadram na menor faixa salarial, subentendendo serem eles os menos preparados profissionalmente. Os dados encontrados nesse estudo discordam dos encontrados por Monteiro et al (21), pois a faixa salarial com maior freqüência foi a de cinco a oito salários mínimos (40%).

          À carreira profissional apontam-se como fatores de risco a insegurança no trabalho e a inadequação da tarefa às capacidades do trabalhador (habilidades e conhecimentos inadequados para o cargo). Esse atributo não foi observado nesse estudo, já que 10 (67%) dos respondentes afirmaram ter conhecimento suficiente ou adequado para o cargo que ocupa.

          Quando perguntado sobre sua satisfação no trabalho, 11 (73%) responderam estarem satisfeitos com seu trabalho. Esses dados estão de acordo com os estudos de Lebouef & Kyvic (6), que afirmam não existir uma nítida relação causal entre insatisfação laboral e dor nas costas.

          Em relação à jornada de trabalho acentuada, 8 sujeitos (53%) da amostra apresentaram carga horária semanal superior a quarenta horas. Atualmente, as empresas necessitam competir tanto no mercado nacional como internacional, desta forma buscam grande produtividade a menor custo, o que impõem muitas vezes, a ritmos de trabalho intensos, jornadas prolongadas, ambientes ergonomicamente inadequados, entre outros fatores (22).

          Situação que não condiz à considerada como ideal. O indivíduo que inclui intervalos apropriados para descanso em um ambiente de trabalho organizado; terá sempre maior probabilidade de desempenhar suas atividades com eficiência, sem prejuízo da sua saúde e uma baixa incidência de enfermidades músculo-esqueléticas (23).

          De acordo com Antunes et al (24), o estresse emocional pode conduzir a um estado de tensão muscular, prejudicando a irrigação do disco intervertebral e podendo representar uma determinante de dor. Da mesma forma, a dor crônica está intimamente associada à depressão, ansiedade e preocupações excessivas com doenças (25).

          Os dados encontrados nesse estudo referente à depressão não tiveram a mesma magnitude, mas 40% dos entrevistados realizaram tratamento especializado para depressão. A associação entre dor na coluna e ansiedade parece ter sido encontrada, pois 8 indivíduos (53%) da amostra consideram-se ansiosos.

A tabela 1 exibe a distribuição dos indivíduos conforme seu estado de ansiedade.

Tabela I Distribuição da amostra quanto à ansiedade

Considera-se ansioso (a)

Freqüência

Porcentagem

Sim

8

53%

Não

6

40%

Às vezes

1

7%

Total

15

100%

 

          Porém, a associação entre dor na coluna e preocupação excessiva com doenças não foi demonstrada nesse estudo, já que apenas 3 entrevistados (20%) relataram ter preocupação excessiva com doenças, não estando de acordo Mcabee (25).

          Quando perguntado aos indivíduos a respeito de sua opinião sobre o estado geral de sua saúde, a maior freqüência, 7 sujeitos (47%), afirmaram que consideram sua saúde em estado regular. Segundo Jersild (26) este dado pode ser uma indicação de nível de autoconceito baixo.

          Os trabalhos de Segovia et al (27) mostraram que a percepção do nível de saúde está associada à adoção de comportamentos de risco, e as evidências indicam que a prevalência de comportamentos de risco é maior entre sujeitos com percepção negativa de saúde (aqueles que consideram sua saúde atual como regular ou ruim).

          Em relação à intensidade da dor, conferiram dor de intensidade moderada 13 indivíduos (87%), seguida de 2 indivíduos (13%) que conferiram ter dor severa. Quanto aos segmentos dolorosos da coluna, 80% dos entrevistados referiram ter dores lombares, estando de acordo com os estudos de Deyo & Philips (2), segundo esses autores em alguma fase da vida de 70 a 85% de todas as pessoas do mundo sofreram um episódio de dor lombar.

          Segundo Teixeira (28), cerca de dez milhões de brasileiros ficam incapacitados por causa desta morbidade, a lombalgia é a causa limitante mais comum entre pessoas na faixa dos quarenta anos e considerada a segunda causa de absenteísmo no mundo.

          Quanto à localização da dor, 8 indivíduos (53%) relataram que sua dor irradia para os membros inferiores, esse valor está abaixo das estatísticas da Organização Mundial de Saúde (8) as quais indicam que 70% da população mundial sofre de dor ciática ou lombociatalgia.

          Quando perguntado se a dor nas costas restringia a vida social do entrevistado, 9 (60%) afirmaram deixar de realizar atividades fora de sua casa, ou mesmo sair de sua residência devido a dor na coluna.

A tabela 2 apresenta a distribuição da amostra segundo a influência da dor na coluna sobre a vida íntima do indivíduo.

Tabela II Distribuição da amostra segundo a influência da dor na vida íntima

Influência da dor na vida íntima

Freqüência

Porcentagem

Não tem vida íntima com parceiro

6

40%

Sim

7

47%

Não

2

13%

Total

15

100%

 

          À abordagem feita por Selye (29) sobre "eustress" que seria o stress saudável ou agradável decorrente, por exemplo, de um beijo apaixonado. Como referido na tabela 2, a maior freqüência de respondentes revelou que a dor influencia negativamente a vida íntima com seu parceiro, também é alta a freqüência dos que não possuem vida íntima. Essa situação contribui para o aparecimento do "distress" que seria o estress desagradável ou patogênico. Segundo Andrade Filho (30), a libido diminuída é uma característica da dor crônica.

          Um caráter observado na amostra foi o número acentuado de sujeitos com dificuldade para dormir devido à dor na coluna, 12 indivíduos (80%), afirmaram ter dificuldade para dormir devido à dor na coluna, 10 (67%) relataram dormir menos de 8 horas diárias. Este tipo de dor contínua e por longo período de tempo afeta muitos aspectos da vida, podendo levar a distúrbios de sono, entre outras perturbações (31).

A tabela a seguir, apresenta a distribuição da amostra segundo nível de cansaço atual.

Tabela III Distribuição da amostra segundo nível de cansaço atual

Cansaço

Freqüência

Porcentagem

Não há

5

33%

Pouco cansado

4

27%

Muito cansado

6

40%

Total

15

100%

          Possivelmente devido ao menor número de horas de sono e a carga horária de trabalho excessivo, a maior freqüência da amostra, 6 indivíduos (40%), conferiu sentir-se muito cansado ultimamente. Segundo Andrade Filho (30), a dor crônica caracteriza-se, dentre outros sinais, pela necessidade de um período maior de repouso.

          Quanto ao uso de medicamentos 14 (93%) entrevistados revelaram fazer uso de analgésicos, mas apenas 3 (20%) relataram alívio completo da dor pelo uso dessa medicação. Knoplich (10), afirma que os medicamentos convencionais têm-se revelado pouco eficaz no controle da dor na coluna. Essas informações sugerem adoção de novas estratégias de tratamento e a abordagem do problema por uma visão holística.

A tabela a seguir, apresenta a distribuição dos indivíduos na presença de dor ao permanecer na postura em pé por tempo prolongado.

Tabela IV Distribuição da amostra referente à dor na postura em pé por tempo prolongado

Dor na postura em pé

Freqüência

Porcentagem

Sim

12

80%

Não

3

20%

Total

15

100%

          Como foi constatado nesse estudo a maior freqüência, 12 indivíduos (80%), refere dor ao permanecer na postura em pé por tempo prolongado. Segundo Alexandre (13) a postura em pé adotada por tempo prolongado induz a fadiga, especialmente com curvatura do tronco pode ser considerado fator de sobrecarga física.

A tabela abaixo se refere à distribuição da amostra na presença de dor ao permanecer na posição sentado por tempo prolongado.

Tabela V Distribuição referente à dor na posição sentado por tempo prolongado

Dor na posição sentada

Freqüência

Porcentagem

Sim

11

73%

Não

4

27%

Total

15

100%

          Em síntese, o problema de dores nas costas está relacionado aos trabalhos estáticos, que pode ser mais responsável pelo aparecimento da fadiga do que os movimentos realizados no trabalho (13). A dor também está presente na posição sentada por tempo prolongado, observando que 11 indivíduos (73%) sentem dor ao permanecer nessa posição.

          Quanto à realização de movimentos bruscos, Cato (32) afirma que a não adoção de princípios básicos da mecânica corporal na execução de tarefas simples como arrumação de cama, limpeza pode levar à fadiga e estiramento da musculatura da coluna causando dores. Os dados obtidos concordam com os de Cato, pois a maior freqüência, 14 indivíduos (93%), afirmou ter dores na coluna ao realizar movimentos bruscos e 8 indivíduos (53%) relataram ter dor durante atividades no lar, como lavar louça e passar roupa. A manifestação de dor durante a realização destas tarefas pode estar associada ao somatório de todos os eventos indesejáveis durante o dia útil dessa população, já que a maioria tem carga horária acentuada de trabalho fora do ambiente domiciliar.

          No índice de massa corporal encontrou-se uma média de 27,47 Kg/m² e desvio padrão de 4,56. Os dados revelaram que a amostra é classificada como obesa 6 indivíduos (40%), seguido por estado de sobrepeso, 5 indivíduos (33%). Embora para medida de um indivíduo o índice de massa corporal possa expressar maior concentração de massa muscular e não de excesso de gordura, em estudos populacionais geralmente uma alta prevalência de sobrepeso significa obesidade, pois a massa corporal magra é pouco variável (33). Desta forma, se feita a soma dos indivíduos obesos com os indivíduos com sobrepeso, totalizará 11 indivíduos que podem ser considerados obesos, representando 73% da amostra.

          A prevalência de dor na coluna aumenta linearmente com o aumento do índice de massa corporal, o que está de acordo com alguns estudos. A "carga extra" que a estrutura ósteo-mio-articular é obrigada a sustentar pode alterar o equilíbrio biomecânico do corpo, justificando o risco aumentado de dor nas costas em pessoas com sobrepeso e obesidade (34).

          A relação cintura-quadril apresentou média de 0,88cm, com valor mínimo de 0,76cm e máximo de 1,04cm em toda a amostra. Se relacionarmos os dados conforme o gênero, veremos que 9 (60 %) mulheres, apresentaram um risco aumentado para desenvolver doenças crônico-degenerativas, enquanto que nos homens apenas 1 (7%) apresentou risco aumentado para saúde (11).

          Através da aplicação do questionário internacional de atividade física foi constatado que 11 indivíduos (73%) da amostra se enquadram na recomendação geral de que todo indivíduo deve realizar pelo menos 30 minutos de atividade física, na maior parte dos dias, se possível todos, de intensidade no mínimo moderada, de forma contínua ou acumulada (34). O resultados está muito acima do esperado para essa média de idade, que seria de apenas 25% segundo Blair et al (36).

          A prática de atividade física de intensidade vigorosa apresentou uma freqüência menor, 6 indivíduos (40%) acumulam 60 minutos semanais de atividade vigorosa. Esse resultado está acima do encontrado por Blair et al (36), pois segundo esse autor apenas 15% das pessoas na faixa dos 40 a 60 anos realizam 60 minutos acumulados durante a semana de atividade física vigorosa.

          O nível de atividade física não apresentou associação com dor na coluna vertebral, discordando de alguns estudos que associam indivíduos mais ativos no lazer a índices reduzidos de morbidade (37). No entanto, o instrumento utilizado nesta pesquisa (questionário internacional de atividade física, versão 6, formato longo) mede as esferas da atividade física individual habitual (trabalho, transporte, casa, lazer e tempo sentado). Supõe-se que as atividades de lazer sejam fatores de proteção enquanto as atividades ocupacionais, fatores de risco para as dores nas costas, o que pode ter anulado a associação no presente estudo.

          A utilização destes dados de forma isolada permite avaliar o caráter multifatorial como causa das algias de coluna vertebral, entre os fatores podem ser apontados: sexo feminino, idade avançada, escolaridade baixa, ansiedade, nível de autoconceito baixo, índice de massa corporal elevado, relação cintura-quadril elevada, jornada de trabalho acentuada e adoção de posturas estáticas por tempo prolongado.

CONCLUSÃO

          Foi possível observar na população em estudo a existência de riscos associados, tanto dentro da mesma variável como em seu conjunto, observando-se em um mesmo sujeito a existência de um somatório de eventos indesejáveis atuando no seu desequilíbrio físico-mental.

          Um dado preocupante reflete o alto índice de mulheres na faixa etária de 50 a 60 anos com manifestações de problema na coluna. Cabe ainda ressaltar que o aumento da idade é fator de risco para dor na coluna vertebral, devendo assim, haver uma redução gradual da exposição a cargas ergonômicas e adequá-las a capacidade e peculiaridade física.

          Houve incidência maior em pessoas com baixo nível de escolaridade, mesmo assim, tornou-se difícil estabelecer uma correlação direta de dor na coluna com as variáveis em estudo. O efeito da baixa escolaridade sobre a dor na coluna é mediado pela maior exposição a cargas ergonômicas, tanto no domicílio quanto no trabalho.

          O estresse emocional pode conduzir a um estado de tensão muscular, prejudicando a irrigação do disco intervertebral e podendo representar uma determinante de dor. Desta forma, a dor pode estar intimamente associada à ansiedade.

          A percepção negativa do estado de saúde sugere a adoção de um maior número de comportamentos de risco. Devido a grande procura por medicamentos analgésicos e a pouca eficácia dessa terapêutica, fica evidente a adoção de novas estratégias de tratamento e a abordagem do problema por uma visão holística.

          A jornada de trabalho acentuada, assim como a permanência em posturas estáticas por tempo prolongado se mostraram como fatores de risco. As empresas buscam grande produtividade a menor custo, o que acaba impondo a exclusão de intervalos apropriados para descanso e ambientes ergonomicamente inadequados. Por não proporcionar as condições ideais para o indivíduo realizar suas atividades com eficiência, esses fatores conferem fadiga e aumento da incidência de enfermidades músculo-esqueléticas.

          A lombalgia e a lombociatalgia foram as causas limitantes mais comuns encontradas neste estudo. Este tipo de dor contínua e por longo período de tempo afeta muitos aspectos da vida, podendo levar a distúrbios de sono, cansaço, diminuição da libido, entre outros fatores que evidenciam um período maior de repouso.

          A prevalência de dor na coluna aumenta conforme o aumento do índice de massa corporal. A "carga extra" que a estrutura ósteo-mio-articular é obrigada a sustentar pode alterar o equilíbrio biomecânico do corpo, justificando o risco aumentado de dor nas costas em pessoas com sobrepeso e obesas. A maior parcela das mulheres apresentou valor elevado na relação cintura-quadril, expondo-se a um risco aumentado para desenvolver doenças crônico-degenerativas.

          Verificamos que os fatores de risco que afetam a pessoa com dor na coluna indicam diversidades e complexidades que se colocam como verdadeiro desafio profissional, necessitando de novos estudos, entre eles, os que envolvem a saúde em idade precoce, para que de forma antecipada internalizem-se hábitos de cuidados à saúde.

          Faz-se necessário que o contexto social do indivíduo e suas reais necessidades sejam consideradas, já que muitas vezes sua história de vida não é investigada por estudos de ações contínuas que visam o bem-estar do indivíduo.

          Portanto, é necessário que o futuro profissional desenvolva uma atitude voltada a noção de inter-relação, ou seja, que supere uma visão de prevenção e reabilitação como opostas. Da mesma forma, a ligação da doença com pressuposto social permite incorporar aspectos não biológicos no processo saúde/doença.

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Autor: Cleon Foletto Ferreira - cleonferreira@hotmail.com

Cleon Foletto Ferreira(1), Luís Henrique Telles da Rosa (2)

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