Traumatismos cranianos







Os ossos do crânio, espessos e duros, contribuem para proteger o cérebro. Mas apesar desta armadura natural, o cérebro está exposto a muitas espécies de lesões. Os traumatismos cranianos causam mais mortes e incapacidades entre as pessoas com menos de 50 anos do que qualquer outro tipo de lesão neurológica; depois dos ferimentos de bala, são a segunda causa principal de morte entre os homens com menos de 35 anos. Morrem quase 50 % dos que sofrem um traumatismo craniano grave.
O cérebro pode ser afectado mesmo que a ferida não penetre dentro do crânio. Muitas lesões são causadas por um impacte precedido de uma aceleração súbita, como acontece com uma pancada forte na cabeça, ou então por uma desaceleração repentina, como ocorre quando a cabeça se encontra em movimento e bate contra um objecto fixo. O cérebro pode ficar afectado tanto no ponto do impacte como no pólo oposto. As lesões por aceleração-desaceleração às vezes denominam-se coup contrecoup (do francês para golpe-contragolpe).

Um traumatismo grave na cabeça pode produzir uma rompimento ou uma ruptura de nervos, de vasos sanguíneos e de tecidos no cérebro e à volta dele. As vias nervosas podem ficar interrompidas e pode ocorrer uma hemorragia ou um edema graves. O sangue, a tumefacção e a acumulação de líquido (edema) têm um efeito semelhante ao causado por uma massa que cresce dentro do crânio e, uma vez que este não pode expandir-se, o aumento da pressão pode danificar ou destruir o tecido cerebral. Devido à posição do cérebro dentro do crânio, a pressão tende a empurrá-lo para baixo, isto é, para o orifício que o faz comunicar com a parte inferior (tronco cerebral), uma situação que se conhece como herniação. Um tipo semelhante de herniação pode ocorrer quando o tronco cerebral é empurrado através do orifício da base do crânio (foramen magnum) para a medula espinhal. As herniações podem implicar um risco de morte porque o tronco cerebral controla funções tão vitais como a frequência cardíaca e a respiratória.

Às vezes, o que pode parecer uma lesão menor da cabeça acompanha-se de uma lesão cerebral grave. As pessoas mais velhas são particularmente propensas aos derrames sanguíneos à volta do cérebro (hematoma subdural) devido a um traumatismo craniano. As pessoas que tomam medicamentos para prevenir a formação de coágulos (anticoagulantes) também estão sujeitas a um risco maior de hemorragia à volta do cérebro se sofrerem um traumatismo craniano.

Uma lesão cerebral deixa, muitas vezes, alguma sequela de disfunção permanente, que varia segundo a limitação do dano a uma área específica (localizado) ou mais extensa (difuso). A perda de funções depende da área do cérebro que for afectada. Os sintomas específicos e localizados podem contribuir para determinar a área afectada. As alterações podem produzir-se no movimento, na sensibilidade, na fala, na vista e no ouvido. A deterioração difusa da função cerebral pode afectar a memória e o sono e conduzir a um estado de confusão e de coma.

Prognóstico

As consequências finais de um traumatismo craniano podem ir desde a recuperação completa até à morte. O tipo e a gravidade das incapacidades dependerão do local e da extensão do cérebro lesionado. Muitas das funções cerebrais podem ser efectuadas em mais de uma área e, às vezes, as áreas indemnes assumem as funções que outras perderam devido à lesão que afectou uma área determinada, o que permite uma recuperação parcial. No entanto, à medida que a pessoa envelhece, o cérebro perde faculdades para passar funções de uma área para outra. Nas crianças, por exemplo, as faculdades da linguagem são regidas por várias partes do cérebro, mas nos adultos estão centradas num só ponto. Se as áreas da linguagem do hemisfério esquerdo ficarem gravemente afectadas antes dos 8 anos, o hemisfério direito pode assumir a função da linguagem praticamente com normalidade. Mas na idade adulta é mais provável que as lesões destas áreas ocasionem um défice permanente.
Algumas funções, como a visão e os movimentos de braços ou de pernas (controlo motor), são regidas por regiões específicas de um lado do cérebro e, em consequência, a lesão de qualquer destas áreas costuma causar um défice permanente. No entanto, a reabilitação pode contribuir para que a pessoa consiga minimizar o impacte desses défices funcionais.

Às vezes, as pessoas com um traumatismo grave da cabeça desenvolvem amnésia e não conseguem recordar-se do que aconteceu imediatamente antes e depois do episódio de perda de consciência.  Os que recuperam o conhecimento na primeira semana são os que mais probabilidades têm de recuperar a memória.

Algumas pessoas com um traumatismo craniano, embora leve, desenvolvem uma síndroma pós-concussão e podem continuar a sentir dores de cabeça e problemas de memória durante muito tempo depois do trauma.

Um estado vegetativo crónico ou persistente (a consequência mais grave de um traumatismo craniano, não mortal) caracteriza-se por um estado prolongado de inconsciência total que se acompanha de ciclos quase normais de vigília e de sono. Esta situação é o resultado da destruição das partes superiores do cérebro que controlam as funções mentais sofisticadas, mas, em contrapartida, estão preservadas as actividades do tálamo e do tronco cerebral, as quais controlam os ciclos do sono, a temperatura corporal, a respiração e a frequência cardíaca. Se o estado vegetativo persistir durante mais alguns meses, é improvável que se chegue a recuperar a consciência. No entanto, uma pessoa que receba assistência por parte de pessoal sanitário experimentado pode viver muitos anos nesta situação.

Diagnóstico e tratamento

Quando uma pessoa com traumatismo craniano chega ao hospital, médicos e enfermeiros verificam, primeiro, as constantes vitais: frequência cardíaca, pressão arterial e respiração. Pode ser necessário um ventilador para as pessoas que não possam respirar adequadamente por si mesmas. Os médicos procedem à avaliação imediata do estado de consciência e de memória do afetado.

Também verificam as funções cerebrais básicas observando o tamanho das pupilas e a sua reação à luz, avaliam a resposta ao calor ou às picadas (sensibilidade) e a capacidade para mover braços e pernas. Efectuam-se exames para avaliar possíveis lesões cerebrais, como uma tomografia axial computadorizada (TAC) ou uma ressonância magnética (RM). As radiografias simples podem identificar as fracturas de crânio, mas não revelam nada acerca de uma provável lesão cerebral.
Depois de um traumatismo craniano, se se observa um estado crescente de sonolência, de confusão e coma, uma subida da pressão arterial e um pulso a tornar-se lento, isso pode significar que se está a verificar um aumento de volume do cérebro. Dado que a pressão por excesso de líquido pode lesar o cérebro com rapidez, administram-se fármacos para reduzir tal inchaço. Também pode implantar-se no crânio um pequeno dispositivo para controlar a pressão e poder determinar a eficácia do tratamento.

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