Lesões por sobrecarga





As lesões do sistema osteomuscular podem classificar-se em agudas ou por sobrecarga. Estas, em contraste com as lesões agudas, não são o resultado de um único traumatismo, mas sim de uma série de forças repetitivas que vencem a capacidade de reparação dos tecidos. Caracterizam-se pelo aparecimento de dor crónica, geralmente de longa evolução e com períodos de recorrência, nalguma estrutura do aparelho locomotor. Se a causa que produz não for evitada - habitualmente a hiper solicitação desportiva -, a dor pode tornar-se permanente e incapacitar o desportista -, a dor pode tornar-se permanente e incapacitar e desportista. Em geral, não existe um antecedente traumático agudo que explique a dor, embora possa acontecer que um traumatismo desencadeie os sintomas de uma lesão por sobrecarga que estava então subjacente. Cada desporto provoca uma hiper solicitação específica do aparelho locomotor, em relação à sua biomecânica. Por isso, cada mobilidade desportiva favorece o aparecimento de lesões típicas por sobrecarga.

 

 

Origem

 

As lesões por sobrecarga produzem-se por auto traumatismo, ou seja, o próprio aparelho locomotor – através de acções não necessariamente violentas de pressão, tracção ou corte, repetidas em forma de micro traumatismos e com efeitos acumulativos – é capaz de desencadear e desenvolver alterações anatómicas e funcionais sobre si próprio. Existe uma relação evidente entre o mecanismo que produz a lesão e a biomecânica do gesto desportivo que a origina. Assim, as lesões por sobrecarga são específicas de cada desporto.

 

 

 

 

Factores causadores

 

Os factores que causam lesões por sobrecarga podem ser intrínsecos ou extrínsecos.

 

Factores intrínsecos

 

  • São factores associados à anatomia, à biomecânica e à fisiologia do desportista: Anomalias do aparelho locomotor. Diferente comprimento das pernas ou desalinhamentos anatómicos dos membros inferiores ou da coluna (de difícil compensação ou correcção, com escoliose, cifose, lordose, anteversões femorais, desalinhamentos femoropatelares, genu varum e genu valgum, torções tibiais externas ou internas).

 

  •  Desequilíbrios musculotendinosos. Por causa da potenciação dos músculos principais implicados no movimento desportivo, em detrimento dos antagonistas, que serão menos solicitados.

 


 

Factores extrínsecos

 

  •  Erros de treino. Constituem a causa mais frequente de lesões de sobrecarga. Devem-se a uma alteração da relação trabalho/recuperação por aumento brusco da intensidade, diminuição temporal da aptidão física, recuperação incompleta das cargas ou técnica desportiva deficiente com uma execução incorrecta dos movimentos.
  • Material e instalações desportivas inadequados. Material que não amortece nem protege suficientemente (calçado, joelheiras); um terreno desportivo com superfícies duras que amortecem, aumentando a intensidade dos microtraumatismos que o sistema osteomuscular deve suportar; as mudanças bruscas de material desportivo ou de terreno de jogo.
  • Factores do meio ambiente. Ambientes frios ou então excessivamente quentes ou húmidos.

 

  • Reabilitação inadequada. Devido a uma recuperação não específica ou a um regresso precoce ao treino ou competição.

É evidente que, quando se reúnem factores intrínsecos, o potencial da lesão aumenta extraordinariamente.

 

 

Inflamação

 

A inflamação é um processo de calor, avermelhamento, inchaço e dor localizados que acompanha as lesões desportivas. A inflamação é um fenómeno biológica extraordinariamente complexo no qual participam muitos tipos de células, enzimas e outras substâncias fisiologicamente activas. Nas lesões por sobrecarga, a soma de forças repetitivas conduz aos microtraumatismos ou à destruição de um pequeno número de células. Os produtos residuais desta destruição são provavelmente os desencadeantes do processo inflamatório.

O primeiro passo da inflamação é uma pequena vasoconstrição para controlar o sangramento. A seguir, produz-se a saída dos capilares de células e fluidos com distintas funções: destruição, limpeza e reparação. A inflamação é um processo necessário na cicatrização das lesões. No entanto, se não se tratar, este processo pode autoperpetuar-se e dar lugar a inflamações crónicas.


Tecidos afectados por sobrecarga

 

Músculos. A lesão muscular por sobrecarga é o resultado de uma inflamação tardia do músculo. Ocorre depois de 12-48 horas de exercício e manifesta-se por dar com o movimento, inchaço e hipersensibilidade no grupo muscular afectado. Pode persistir durante 4-12 dias. Em caso de inflamação crónica do músculo, pode produzir-se um extravasamento de líquidos, o que provoca um aumento excessivo da pressão dentro do compartimento muscular.

Tendões. A reacção inflamatória dos tendões origina uma tendinite. Os tendões podem lesar-se por cargas repetidas ou por irritação mecânica persistente. Esta fadiga é mais comum na zona de união do tendão com o osso, já que é uma zona muito pouco vascularizada.

 

 

Prevenção da lesão por sobrecarga

  • Aquecimento. Geral e específico do desporto. É preciso também haver um regresso à calma progressiva quando termina a actividade física.
  • Reforço muscular específico. Dos grupos musculares que intervêm na actividade física, tanto os agonistas como os antagonistas. Por outro lado, devem trabalhar-se nos ângulos adequados, conforme o desporto.
  • Reforço do volume de treino. O cansaço manifesta-se em função do volume de trabalho, e a recuperação, em relação com o trabalho prévio. Esta recuperação deve ser individualizada e aproveitar os meios naturais de recuperação.
  • Reabilitação precoce e específica. Tratamento das lesões por sobrecarga, que se inicia com o diagnóstico, baseando-se na história clínica e na exploração física. É preciso prestar atenção aos factores intrínsecos e extrínsecos, e realizar as provas complementares que forem pertinentes em cada caso: radiografia, gamagrafia óssea, tomografia computadorizada, ressonância magnética, electromiografia.

 

 

Tratamento

 

Os objetivos do tratamento são reduzir a dor e a inflamação, promover a cicatrização e reabilitar o membro lesionado para prevenir o reaparecimento da lesão. Para isso é necessário repouso ou conforme o desporto e o tipo de lesão produzida, medicação anti-inflamatórios, fisioterapia, reabilitação, corrigindo os problemas de alongamento, flexibilidade. Por vezes é necessária cirurgia para corrigir a biomecânica ou a anatomia.



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