Fisioterapia e a Plasticidade Neural






A plasticidade neural ou neuroplasticidade é a capacidade de organização do Sistema Nervoso frente ao aprendizado e a lesão. Esta organização se relaciona com a modificação de algumas conexões sinápticas. A plasticidade nervosa não ocorre apenas em processos patológicos, mas assume também funções extremamente importantes no funcionamento normal do indivíduo. Os processos de modificação pós-natais em conseqüência da interação com o meio ambiente e as conexões que se formam durante o aprendizado motor consciente (memória) e inconsciente (automatismo) são exemplos de como funciona a neuroplasticidade em indivíduos sem alteração do Sistema Nervoso Central. É importante salientar, que estes dois processos descritos acima, necessitam da estimulação periférica para dar o feedback neuromotor.
Para os Fisioterapeutas, a idéia de neuroplasticidade é de grande valia pois representa um avanço no processo de reabilitação. Raineteau e colaboradores (2001), em seu trabalho Plasticity of Motor Systems After Incomplete Spinal Cord Injury colocam que muitas pessoas que sofreram lesão incompleta da coluna vertebral mostram, com o tempo, significativa melhora funcional. Para ele, o processo de recuperação depende da reorganização de circuitos que foram separados pela lesão. A plasticidade sináptica nos já existentes caminhos e a formação de novos circuitos em brotamentos colaterais são importantes componentes deste processo de recuperação. O que se torna mais importante dentro do trabalho deste autor é o fato dele afirmar que existem evidências anatômicas e funcionais de que a plasticidade é potencializada pela atividade assim como por manipulação.
A neuroplasticidade pode resultar em recuperação de uma função perdida devido à lesão, chamada plasticidade benéfica ou compensatória; como também pode gerar funções mal adaptadas ou patológicas, a plasticidade maléfica.
De acordo com alguns métodos de tratamento fisioterapêutico, o SNC é um órgão de reação ao invés de ação, e reage aos estímulos que para ele convergem  a partir de fora e de dentro do corpo. Portanto, é responsabilidade do terapeuta selecionar métodos que sejam mais eficientes para a necessidade de cada paciente. Uma variedade de combinações de procedimentos terapêuticos para ajudar o indivíduo a aprender ou reaprender o padrão de resposta normal. Além disso, esta abordagem dá ao profissional uma escolha entre vários procedimentos e promove um ambiente de aprendizado que é flexível, dinâmico e interessante.
  Espera-se principalmente dos terapeutas que trabalham com adultos com lesões cerebrais que contribuam com seu talento para facilitar a aquisição e refinamento de habilidades de manipulação de membros isolados, habilidades de locomoção e movimentos posturais, todas elas englobando o favorecimento de experiências sensório-motoras, prevenção e minimização de deformidades, integração de aspectos cognitivos e comportamentais do aprendizado motor, e educação do indivíduo, família e outros profissionais da saúde.
  A recuperação da força muscular e o aumento na habilidade funcional ocorrem através de vários processos fisiológicos. Os neurônios recuperados desenvolvem brotamentos axonais para reinervar fibras musculares órfãs. Um outro processo provê um aumento na habilidade funcional e um aumento aparente na força através do aprendizado neuromuscular enquanto que a prática de um exercício ou uma atividade leva a uma melhora nas habilidades e desempenho sem necessidade de aumento da força muscular.
 Os ganhos funcionais iniciais após a lesão são atribuídos à redução do edema cerebral, absorção de tecido lesado e melhora do fluxo vascular local (circulação de luxo).
 Como o sistema nervoso em desenvolvimento é mais plástico que o sistema nervoso do adulto, uma lesão em uma criança de 8 anos de idade é geralmente caracterizado por boa recuperação de função. Contudo, uma lesão aos 80 anos de idade pode ser mais devastadora como resultado de uma recuperação funcional pior. Segundo, quanto menos completa a lesão, maior a probabilidade que ocorra uma recuperação significativa. Terceiro, a lesão nas vias motoras ou sensoriais primárias é mais provável resultar em maior déficit funcional que o dano a outras áreas .
  Atualmente, pesquisas estão comprovando que a atuação da fisioterapia, através de estímulos aos padrões normais de movimento e inibição dos padrões anormais, provoca um aumento e aceleração no processo de recuperação funcional cerebral. Em um estudo  realizado em pacientes com AVC crônico conclui-se que houve um aumento da representação motora cortical antes reduzida, graças a um efetivo programa de reabilitação que induzia ao movimento.
  A atuação correta e eficaz da equipe de reabilitação na estimulação da plasticidade é de fundamental importância para a recuperação máxima da função motora do indivíduo. Isso implica na escolha certa do tratamento e na intensidade do mesmo no período de maior recuperação da área lesada e sua atividade funcional.
Referência:

Raineteau O, Schwab Plasticity of Motor Systems After Incomplete Spinal Cord Injury . Nat Rev Neuroscience – Abril 2001, 2(4): 263-73



Dicas do mês para estudantes e profissionais de Fisioterapia


Tecnologia do Blogger.