Atuação fisioterapêutica na Doença de Huntington





O tratamento fisioterapêutico deve ter como base a manutenção das habilidades preservadas, bem como a melhora, dentro do possível, das funções já comprometidas.  Todo tipo de intervenção deverá buscar a promoção da autoconfiança e aumento da auto-estima, tendo como base as necessidades e desejos do próprio paciente de forma a motivá-lo e manter sua energia e colaboração. O profissional fisioterapeuta deve estar preparado para possíveis situações de crises agudas como a asfixia.  

Fornecer apoio aos familiares do indivíduo enfermo é também papel da fisioterapia, tanto no que diz respeito à orientação sobre como lidar com possíveis situações de estresse diante da evolução dos comprometimentos motores do paciente, quanto no encaminhamento à profissional da psicologia, que possa levar a superação de dificuldades emocionais.

A prática de atividades físicas para pessoas com distúrbios motores, representa a aplicação de princípios de reabilitação no mais alto nível. A cada dia, um número maior de pessoas com algum tipo de incapacidade física, está envolvida em atividades físicas e esportes, devido aos benefícios proporcionados para a reabilitação e para o bem - estar.  A exclusão desses indivíduos da prática de atividade física pode levar a diminuição da aptidão física e da eficiência dos movimentos, comprometendo também o desenvolvimento de habilidades motoras. Para um programa de reabilitação efetivo é importante o trabalho de uma equipe multiprofissional além da integração com a família e com a comunidade na qual o indivíduo vive. Os objetivos de um programa de reabilitação devem enfocar a independência nas atividades de vida diária e nas atividades profissionais. É essencial considerar que o indivíduo, no processo de reabilitação, necessita também de recreação e de atividade esportiva como qualquer outro.

Quatro componentes definem a promoção da saúde para esses indivíduos: promoção de estilo de vida saudável e meio ambiente saudável; prevenção de complicações de saúde e outras complicações da própria doença; preparação da pessoa para compreender e monitorar a própria saúde e necessidades de cuidados especiais; promoção de oportunidades para participação em atividades diárias comuns. Por este motivo, o trabalho terapêutico não deve estar focado somente na fisioterapia convencional, mas sim em estratégias de recreação terapêutica, proporcionando oportunidades de praticar atividades que tragam momentos de prazer e satisfação.  Sempre que possível, a inclusão de música, trabalhos manuais e tarefas em grupo, deverá ser implementada, uma vez que tais atividades podem estabelecer níveis de motivação satisfatórios ao aumento ou manutenção da máxima independência.

De modo geral, todas as fases do tratamento de reabilitação devem ter como objetivo minimizar os efeitos das anormalidades motoras, como alterações de tônus, limitações de amplitudes de movimento, instalação de deformidades, além de prevenir ou tratar possíveis comprometimentos respiratórios. As técnicas fisioterapêuticas devem ser específicas ao comprometimento, como em qualquer outro tipo de doença neurológica, com treino de consciência corporal, controle postural e coordenação motora, e ênfase na realização das atividades de vida diária.

A intervenção da fisioterapia nos estágios iniciais e intermediários deve estar focada na manutenção do equilíbrio e da mobilidade, através da implementação de exercícios de alongamento para todos os tecidos moles adjacentes às articulações, de forma a prevenir contraturas e deformidades. Da mesma forma, o treino para manutenção do equilíbrio a partir de exercícios proprioceptivos, poderá retardar situações de hipomobilidade por insegurança. Os exercícios para este fim deverão ser implementados através do input de informações sobre a posição, velocidade, distância e direção do movimento, considerando a relação existente entre um segmento e outro. É importante reforçar que a propriocepção constitui o mecanismo de suporte para a postura equilibrada tanto estática quanto dinâmica.

Nos estágios em que a dependência física se fizer evidente, o treino de transferências - do leito para a cadeira, ou da cadeira de rodas para a cadeira de banho, por exemplo – deve ser enfatizado como forma de estender ao máximo, o mínimo de independência. O planejamento de um programa eficiente deverá estar pautado nas características específicas de cada paciente e do meio em que vive, de modo a permitir a manutenção ou progressão dos melhores resultados físico-funcionais e também emocionais. É importante considerar todas as possibilidades que proporcionem melhores chances de promoção funcional a partir de um mesmo espectro de capacidades, enfatizando o trabalho com pontos controles (ou seja, atividades que trabalhem as habilidades ainda presentes), direcionamentos de valores, foco no resultado, metas e objetivos de curto, médio e longo prazo, dentro de um sistema operacional multi-profissional.

O desenvolvimento de habilidades motoras específicas para a independência funcional, conquista de autonomia, bem-estar e saúde, depende grandemente da qualidade e da quantidade dos movimentos realizados de acordo com a necessidade funcional. Assim, é importante destacar a capacitação para movimentos funcionais do cotidiano. Em adição, deve-se orientar a respeito da importância do uso funcional das habilidades aprendidas, o que afetará não apenas a manutenção das capacidades físicas adquiridas, mas também o autodesenvolvimento das adaptações necessárias; Por outro lado, é importante ressaltar também que a motivação para a aprendizagem deve ser mantida constantemente. A realização de atividades mais complexas e interativas, que necessitem de controle motor mais complexo, deve ser estimulada, o que pode ser conseguido através de jogos e brincadeiras que demandem a presença física e intelectual, e que levem o indivíduo desejar a superar desafios e alcançar resultados positivos.  A partir da consciência a respeito da própria condição física e emocional, será mais fácil para o indivíduo e seus familiares estabelecerem novos hábitos de vida e de integração social .

As atividades terapêuticas devem focar situações de descoberta e desafios pessoais e coletivos capazes de promover o desenvolvimento físico e mental do paciente, promovendo a interação com o meio onde está presente e com outros indivíduos. Devem ser enfatizadas ainda, estratégias que englobem estímulos físicos, sensoriais e afetivos, o armazenamento de informações; a reprodução das ações (aprendizagem), a aquisição do domínio sobre funções ou tarefas específicas, a superação (independência funcional), o aperfeiçoamento (adequar e adaptar), a otimização (potencialização da performance motora), a responsabilidade, e a autonomia.

Como em todas as patologias, a forma e a gravidade da DH manifesta - se individualmente, com evolução e progressão variáveis. Entretanto, é comum que ocorram inicialmente alterações sutis na coordenação resultando em movimentos involuntários, além de dificuldades de raciocínio e humor depressivo ou irritável. No estágio intermediário, é possível que os movimentos involuntários (Coréia) possam tornar-se mais acentuados. Provavelmente a fala e a deglutição se apresentarão afetadas, sendo inadiável a intervenção da fonoaudiologia com implementação de estratégias que visem melhorar a comunicação e a deglutição. Embora o acompanhamento pela fisioterapia seja mais eficaz se presente desde a constatação dos primeiros sinais e sintomas, a implementação de atividades que retardem o desenrolar de complicações funcionais e cognitivas deve ser estabelecida o mais precocemente possível. Uma vez que as habilidades de pensamento e raciocínio lógico também irão diminuir gradualmente, o acompanhamento psicológico e, se possível, pedagógico, deverão fazer parte da rotina do doente.

Pacientes nos estágios avançados da DH podem apresentar Coréia grave, aparentemente minimizados pela rigidez de movimentos. A rigidez dos músculos da orofaringe pode resultar em disfagia e conseqüente perda de peso. Neste estágio, o paciente torna-se totalmente dependente em todos os aspectos, não podendo mais andar e com muita dificuldade de comunicação. Mesmo com as suas habilidades cognitivas intensamente prejudicadas, é muito importante lembrar que em geral, a pessoa permanece consciente e continua capaz de compreender a linguagem. Finalmente, o óbito sobrevém não especificamente pela patologia, mas sim pelas complicações da imobilidade, como broncoasfixia, infecções e até mesmo traumatismos crânio – encefálicos.  

Finalmente, é importante salientar também, que o progressivo comprometimento da linguagem torna necessária a abordagem de formas de comunicação, que facilitem o convívio familiar e possam suprir as necessidades do paciente pelo máximo tempo possível. O emprego de anotações, gestos e expressões faciais, quando a comunicação normal já não pode ser eficiente, deve ser estimulado.


Fonte




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