Esclerose multipla e Fisioterapia




Anualmente, tem-se realizado muitas pesquisas na tentativa de descobrir qual seria a possível causa da esclerose múltipla, sendo que até hoje não existe a confirmação da sua etiologia. Sabe-se que é uma patologia crônica que ocasiona pequenas inflamações localizadas em diversos lugares dentro do sistema nervoso central, que podem deixar cicatrizes chamadas lesões ou placas (esclerose) na mielina. Às vezes, estas inflamações são acompanhadas de sinais e sintomas tais como: alterações visuais, perda de força e/ou sensibilidade em uma parte do corpo, tremor e problemas no controle urinário que denominam-se exarcebações ou comumente surtos. A esclerose múltipla pode evoluir de forma benigna, normal ou mais pronunciada. O paciente pode ter recaído para logo melhorar ou inclusive ter poucas alterações nas atividades. Os sintomas variam segundo as regiões afetadas do sistema nervoso central.

Para que o fisioterapeuta possa prescrever um tratamento adequado para o seu paciente é necessário que ele conheça as possíveis manifestações desencadeadas pelo processo da doença e como lidar com seu portador.

A esclerose múltipla é definida como uma doença neurológica crônica, que se caracteriza como uma lesão do sistema nervoso central, usualmente progressiva e que não tem cura. É conhecida também como esclerose em placas ou doença desmielinizante, pois transforma em placa endurecida a mielina que recobre e isola as fibras nervosas destinadas aos impulsos do cérebro, ao nervo óptico e à medula espinhal, dificultando assim o controle de várias funções orgânicas, tais como visão, o andar e o falar, entre várias outras funções fisiológicas.

Na esclerose múltipla ainda não se sabe o porquê a mielina é lesada, passando por um processo de desmielinização, o que se sabe é, que a lesão fundamental evolui em duas etapas: uma desmielinização inicial que poderá ser total ou parcialmente reversível ou, uma esclerose irreversível tardia.

O início da esclerose múltipla se dá entre os 20 e 45 anos de idade em 2/3 dos casos, sendo rara antes da puberdade e em casos com mais de 55 anos. Desenvolve-se mais em mulheres do que em homens cerca de 3:2.

As possíveis causas que desencadeiam a esclerose múltipla ainda são controvertidas. Várias hipóteses e fatores são estudados na tentativa de explicar o aparecimento da doença, no entanto, o que se tem como certo é a existência de um defeito imunológico. Mas, porém, as características, o tipo e as principais causas desse mesmo defeito imunológico são também controvertidas. Os possíveis fatores e hipóteses que poderiam explicar o aparecimento da doença são:

1- fatores Ambientais: devido ao aparecimento maior de casos em áreas temperadas em relação a áreas tropicais;

2- fatores Genéticos: presença de um fator genético que seria responsável por uma ligação com a transmissão familiar da doença (antígenos de histocompatibilidade);

3- aspectos da Hipótese Virótica - atualmente estão sendo realizados estudos sobre o possível papel da Herpes Humana Vírus tipo 6 (HHV-6) na esclerose múltipla onde o vírus entraria no sistema nervoso central depois de uma infecção na infância (Roseóla), e então, talvez em pessoas com predisposição genética, o vírus seria reativado na idade adulta, fazendo com que o sistema imunológico do indivíduo destrua a mielina do próprio corpo. No entanto, ainda não há evidências que o tratamento com agentes eficientes contra o HHV-6 terá um papel no tratamento da esclerose múltipla, porém ainda não se tem como certo de que seja este e não outro vírus que desencadeia a esclerose múltipla;

4- aspectos da Hipótese Imunológica - uma anormalidade do sistema imunológico poderia permitir que determinados vírus, direta ou indiretamente, atuem como desencadeadores do processo desmielinizante. Contudo, uma vez que não há até o momento evidências conclusivas que assegurem a qualquer vírus um papel decisivo na causa da esclerose múltipla, esta deve ser considerada como doença causada por uma reação imunológica dirigida contra a mielina no sistema nervoso central.

O diagnóstico da esclerose múltipla nem sempre é rápido, já que os sintomas se manifestam de forma branda e pouco perceptível. Apenas exames neurológicos e testes laboratoriais podem confirmar a doença: punção lombar ou exame do líquor, exame de potencial evocado, tomografia computadorizada e ressonância magnética.

As manifestações clínicas variam de paciente para paciente. O padrão clássico é caracterizado por surtos e remissões, por súbito surgimento ou reaparecimento dos sintomas que indicam o desenvolvimento de uma lesão nova ou extensão de uma antiga, é seguido por desaparecimento parcial ou total dos sintomas. A esclerose múltipla progressiva é caracterizada por uma piora lenta ou rápida desde o surgimento da doença, sem períodos delineados de surtos e remissões, onde os déficits existentes podem aumentar em gravidade e novos sintomas ocorrem à medida que a doença progride. A terceira forma de manifestação da esclerose múltipla é uma combinação entre as duas formas anteriores, onde começa com um curso clássico de surtos e remissões, mas torna-se progressiva com remissões limitadas.

As causas que predispõem ao surto geralmente estão ligadas a fatores psicológicos, os quais podem levar a um desgaste emocional e conseqüentemente a uma fadiga mais fácil que pode se dar ao mínimo esforço físico ao qual o paciente seja submetido.

Os sinais e sintomas da esclerose múltipla se manifestam de diferentes formas dependem do tamanho, intensidade e localização das lesões. Os déficits funcionais e clínicos se relacionam com áreas localizadas de desmielinização do sistema nervoso central. Devido à grande variabilidade de localizações anatômicas e seqüencial temporal das lesões em pacientes com esclerose múltipla as manifestações clínicas variam de um indivíduo para outro.

Os sinais e sintomas comuns na esclerose múltipla são:

- sintomas motores: espasticidade e espasmos reflexos, fraqueza muscular; contraturas, distúrbios de marcha e fatigabilidade fácil. - sintomas cerebelares e bulbares: dificuldade de deglutição/respiratórias resultantes, déficit de equilíbrio e tremor intencional.

-sintomas sensoriais: dor, parestesias e distorção da sensibilidade superficial.

- sintomas visuais: diminuição da acuidade visual e diplopia.

- sintomas vesicais e intestinais: incontinência, retenção urinária e constipação.

- sintomas sexuais: impotência, diminuição na sensibilidade genital e na lubrificação genital.

- sintomas cognitivos e emocionais - depressão, euforia, estados emocionais mistos, instabilidade, distúrbios de julgamento, memória, diminuição do pensamento conceitual, diminuição na atenção e concentração.

- problemas e complicações secundárias: úlceras de decúbito, intolerância ao calor, diminuição da amplitude de movimento, contraturas articulares e alterações emocionais.

Até hoje não se descobriu nenhum remédio que leve à cura da doença ou que estacione o quadro clínico. Por ser uma doença de curso imprevisível, muitas vezes um medicamento que parece prolongar o espaço de tempo entre um surto e outro, ou até mesmo amenizar os sintomas em outros momentos, não surte o mesmo efeito. Os medicamentos utilizados são: imunossupressores, interferons, ACTH (Hormônio Adreno Corticotrópico), e capaxone.

O fisioterapeuta deve estabelecer os objetivos de tratamento para um paciente com esclerose múltipla partindo do princípio de que devemos ajudar o paciente a utilizar ao máximo as capacidades que lhe restam. As necessidades variam de um paciente para outro, sendo que essa variação se deve aos sintomas específicos apresentados pelo paciente e ao estágio evolutivo no qual se encontra a doença, indicando, portanto, que o tratamento fisoterapêutico deve ser individualizado.

O fisioterapeuta pode atuar tanto na fase aguda (pós-surto) quanto na fase remissiva, tomando alguns cuidados. Na fase aguda, os exercícios devem ser mais passivos, as pausas de recuperação mais longas, os exercícios, objetivam basicamente, manter as amplitudes de movimento e evitar complicações secundárias, conforme a evolução, podemos adicionar exercícios ativos sem que ocorra muito gasto energético. Já na fase remissiva os exercícios ativos serão mais intensos, mas sempre intercalados por pausas de recuperação, de modo que não ocorra a fadiga, nem o aumento da temperatura corpórea.

O portador de esclerose múltipla necessita também de orientação nutricional adequada para que tenha uma dieta equilibrada e também de acompanhamento psicológico devido às alterações emocionais e de personalidade que ocorrem devido ao próprio desconhecimento da doença, pelo medo do surto, das seqüelas pós-surto e até mesmo por falta de um tratamento adequado que leve à cura da doença.

CONCLUSÃO

Apesar da atuação incessante da equipe interdisciplinar que visa à busca de uma melhor qualidade de vida para os pacientes e dos vários tipos de tratamentos para a esclerose múltipla terem como objetivo aumentar o espaço de tempo entre um surto e outro e amenizar os sintomas pós-surto, após este estudo podemos concluir que enquanto não for descoberta a etiologia desta patologia, torna-se difícil chegarmos à cura da doença.

Enquanto isso não acontece, cabe à fisioterapia e a toda equipe interdisciplinar proporcionar aos milhões de portadores da esclerose múltipla espalhados pelo mundo uma melhora quantitativa e qualitativa de suas habilidades, tentando fazer com que os mesmos levem uma vida normal dentro de suas limitações.

BIBLIOGRAFIA

CASH, J. – Neurologia para Fisioterapeutas. 4ª edição. São Paulo, Panamericana, 1988.

DANGELO, J. G e FATTINI, C. – Humana Sistêmica e Segmentar. 2ª edição. São Paulo; Rio de Janeiro; Belorizonte., Atheneu,1993.

GUYTON, A C. M. D, HALL, J. E. - Tratado de Fisiologia Médica. 9ª edição. Rio de Janeiro, Guanabara/koogan, 1996.

MACHADO, B. M. – Neuroanatomia Funcional. 2ª edição. S.P; R.J; B.H., Atheneu, 1993}.

MELAGRANO, R. F. – Esclerose Múltipla. – Manual para pacientes e suas famílias. 1ª edição, Composição e Arte: Imprensa Oficial do Estado S.A. IMESP, São Paulo, 1992.

ROWLAND, Lewis P. – Merrit Tratado de Neurologia. 9ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara/Kogan, 1997.

SPENCE, A. P. Anatomia Humana Básica. 2ª edição. São Paulo, Manole, 1993.

SULIVAN, S. B. O, SCHMITZ T. J. – Fisioterapia Avaliação e Tratamento. 2ª edição. São Paulo, Manole, 1993.

UMPHRED, D. A. – Fisioterapia Neurológica. 1ª edição. São Paulo, Manole, 1994.

Dicas do mês para estudantes e profissionais de Fisioterapia


Tecnologia do Blogger.