Exercícios Funcionais na Reabilitação de Lesões do Manguito Rotador: Além do Básico




As lesões do manguito rotador constituem um desafio comum na prática ortopédica e demandam uma abordagem que transcenda o fortalecimento isolado dos músculos envolvidos. A complexidade biomecânica da articulação glenoumeral, aliada à sua dependência funcional da escápula, exige um protocolo que enfatize a integração neuromuscular e a funcionalidade dos padrões motores.

Por que exercícios funcionais?

Exercícios funcionais buscam restaurar a coordenação e o controle motor dentro dos padrões de movimento específicos que o paciente realiza no dia a dia, integrando estabilização escapular, mobilidade articular e recrutamento muscular sequencial. Isso é especialmente relevante para o manguito rotador, cuja principal função é manter a cabeça do úmero centrada na cavidade glenoidal durante a movimentação do braço, prevenindo deslocamentos e reduzindo a sobrecarga dos tecidos.

 
Avaliação para prescrição funcional

Antes de prescrever, é fundamental uma avaliação detalhada do padrão de movimento da escápula e do ombro, buscando identificar:

Desvios como escápula alada ou protraída excessivamente 
Padrões compensatórios na elevação do braço 
Presença de fadiga precoce dos estabilizadores escapulares 

Limitações na amplitude articular por dor ou rigidez

Esses dados vão orientar o foco dos exercícios funcionais para garantir que o paciente recrute os músculos corretos nas fases adequadas do movimento. 


Fase 1: Ativação e controle motor específico

Objetivo: Retomar o controle neuromuscular da escápula e dos rotadores profundos com baixo estresse sobre o tecido lesionado.

Exercícios indicados:

Serrátil anterior em cadeia cinética fechada:
Execução: Com o paciente em posição de quatro apoios, incentive o “empurrar” das mãos contra o solo, realizando a protrusão escapular controlada (“push-up plus”).
Detalhe fundamental: Evite ativação excessiva do trapézio superior; o movimento deve ser suave e controlado para recrutar principalmente o serrátil anterior.


Isometria em rotação externa:
Execução: Paciente sentado, cotovelo a 90°, executar rotação externa isométrica contra resistência leve (faixa elástica ou mão do terapeuta), focando em ativar o infraespinhal sem compensações.
Observação: Manter o ombro em posição neutra, evitando elevação escapular. 


Fase 2: Integração de movimento e resistência progressiva

Objetivo: Promover a coordenação entre escápula e úmero durante padrões dinâmicos e funcionalmente relevantes.

Exercícios indicados:

Wall slide com faixa elástica:
Execução: Paciente em pé, encostado na parede, realizando a elevação do braço em flexão ou abdutor com resistência progressiva da faixa elástica. O foco é manter a escápula estabilizada e acompanhar o movimento do úmero sem deslocamentos compensatórios.
Pontos de atenção: Controlar a inclinação torácica e evitar rotação medial escapular excessiva.


Remada baixa com retração escapular:
Execução: Sentado ou em pé, puxar a faixa elástica com cotovelos próximos ao corpo, enfatizando a retração e depressão da escápula, fortalecendo trapézio médio e inferior.
Progressão: Aumentar gradativamente a carga e a velocidade, respeitando a estabilidade articular.


Fase 3: Exercícios funcionais avançados e especificidade

Objetivo: Reforçar a resistência, potência e o controle neuromuscular para demandas específicas do paciente.

Exercícios indicados:

Lançamentos com peso leve (ex: bola de borracha):
Execução: Em plano sagital, simular arremessos com ênfase na desaceleração controlada do membro superior, recrutando o manguito rotador e estabilizadores escapulares em cadeia.


Exercícios em superfície instável (bosu, prancha):
Execução: Combinar estabilização do tronco com elevação do braço, promovendo sinergia postural e controle proximal-distal.


Considerações clínicas

A chave para o sucesso está no detalhamento da execução e no feedback constante ao paciente, garantindo que cada fase do movimento seja controlada e que o recrutamento muscular seja específico. A progressão deve ser baseada não apenas no aumento da carga, mas na qualidade do movimento, no controle do padrão escapular e na ausência de dor.

Além disso, o fisioterapeuta deve estar atento às respostas clínicas do paciente, ajustando volume, intensidade e exercícios conforme a evolução da cicatrização e a adaptação neuromuscular.Se você quer um guia completo, com protocolos detalhados, variações de exercícios e dicas para cada fase da reabilitação ortopédica, conheça o EBOOK 150 Exercícios de Fisioterapia na Ortopedia.

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