Avaliação Fisioterapêutica Hospitalar: Por Onde Começar e o Que Observar

 

A avaliação fisioterapêutica em ambiente hospitalar representa um desafio multidimensional que requer do profissional não apenas conhecimento técnico robusto, mas também capacidade crítica e analítica para interpretar uma vasta gama de informações clínicas e funcionais. Diferente da avaliação em contextos ambulatoriais, o cenário hospitalar impõe a necessidade de compreender a dinâmica instável do paciente, onde fatores como suporte ventilatório, sedação, medicações e comorbidades influenciam diretamente a capacidade funcional e a resposta às intervenções fisioterapêuticas. Por isso, iniciar a avaliação exige uma sistematização que ultrapasse a simples coleta de dados, privilegiando a integração dos aspectos clínicos, fisiológicos e funcionais.

O ponto de partida é a análise minuciosa do prontuário, que deve ser feita com olhar crítico sobre o diagnóstico principal e as comorbidades, reconhecendo que muitas vezes o impacto funcional decorre mais das condições associadas do que da doença-base. Parâmetros laboratoriais, como eletrólitos, marcadores inflamatórios e exames de imagem, fornecem subsídios para entender complicações sistêmicas que interferem na força muscular, mobilidade e função respiratória. O uso de medicações, especialmente sedativos, bloqueadores neuromusculares, corticosteroides e agentes vasoativos, deve ser cuidadosamente considerado, pois influenciam diretamente a avaliação e o planejamento terapêutico.

A entrevista clínica, quando possível, e a comunicação com a equipe multidisciplinar são etapas indispensáveis para agregar informações qualitativas que não se encontram nos exames - o relato do paciente, as percepções da enfermagem e dos médicos enriquecem a compreensão do quadro funcional e das limitações apresentadas. O fisioterapeuta deve também avaliar a capacidade cognitiva e comunicativa do paciente, já que déficits nessas áreas impactam a adesão e a resposta ao tratamento.

Na avaliação física, o fisioterapeuta deve realizar uma inspeção detalhada da postura, integridade da pele e sinais de edema, reconhecendo que alterações nesses aspectos podem indicar risco aumentado de complicações como úlceras de pressão e linfedema. A mensuração rigorosa dos sinais vitais deve acompanhar toda a avaliação, com atenção especial para instabilidades hemodinâmicas que podem contraindicar ou limitar certas intervenções.

No âmbito respiratório, é imprescindível avaliar o padrão ventilatório, a mecânica pulmonar, a presença e características das secreções e o uso de musculatura acessória, considerando se o paciente está sob ventilação mecânica e o tipo de suporte oferecido. O conhecimento detalhado dos parâmetros ventilatórios, como volumes correntes, pressões de pico e plateau, e o índice de oxigenação, permite ao fisioterapeuta ajustar estratégias de desmame e otimizar a função pulmonar.

A avaliação neuromuscular deve englobar a força muscular segmentar e global, o tônus, a amplitude de movimento articular e a sensibilidade, com ênfase na detecção precoce da fraqueza adquirida na UTI, que impacta diretamente a recuperação funcional. Testes específicos para medir força e resistência, aliados à observação funcional, são essenciais para elaborar um plano terapêutico que contemple a reabilitação precoce.

O exame da mobilidade funcional deve extrapolar a simples capacidade de movimentação, incorporando avaliações da transferência, equilíbrio estático e dinâmico, marcha e uso de dispositivos auxiliares, sempre com foco no potencial funcional e nas metas realistas a serem alcançadas. A mobilização precoce, ainda que parcial, é um dos pilares para a prevenção de complicações e para a manutenção da funcionalidade.

Durante toda a avaliação, o fisioterapeuta precisa estar atento a sinais de fadiga, dor, desconforto ou instabilidade clínica, ajustando a abordagem para respeitar os limites do paciente, garantindo a segurança e a eficácia das intervenções. Essa postura reflexiva, aliada à integração com a equipe multiprofissional, é fundamental para a tomada de decisões clínicas assertivas e para a individualização do cuidado.

Por fim, a avaliação fisioterapêutica hospitalar deve ser vista como um processo dinâmico, que se adapta conforme a evolução clínica do paciente, permitindo a atualização contínua do plano terapêutico e o alinhamento das metas funcionais ao estágio atual da recuperação.

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