Exercícios Progressivos para Reabilitação de Lesões Musculares de Isquiotibiais

As lesões musculares dos isquiotibiais, especialmente do bíceps femoral, são comuns em esportes que exigem aceleração e desaceleração rápidas. Mas o que separa uma recuperação superficial de um retorno seguro à função é a progressão criteriosa de exercícios — do controle neuromuscular até a força excêntrica e os gestos esportivos.
O fisioterapeuta que domina essa sequência reduz recidivas e garante uma recuperação verdadeira do tecido muscular e da funcionalidade.
Princípios que norteiam a progressão
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Tratar tecido muscular exige mais do que analgesia: O reparo do tecido exige estresse mecânico controlado — sem isso, o colágeno se organiza de forma aleatória e a reintegração funcional falha.
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A progressão é baseada na tolerância clínica, não em dias de protocolo genérico.
Contração excêntrica é o eixo da reabilitação — mas deve entrar no momento certo, com base em dor, amplitude e controle.
Fase 1: Controle da dor, ativação e proteção funcional
Objetivo: Minimizar a dor sem inibir o recrutamento muscular e restaurar o controle neuromuscular inicial.
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Isometria de baixa carga na posição encurtada:
Exercício: Contração isométrica dos isquiotibiais com joelho flexionado a 30–40°, deitado em supino com calcanhares apoiados na bola suíça.
Repetição: 3 séries de 10–15 segundos de ativação.
Objetivo clínico: Fornece estímulo sem tração excessiva sobre o local da lesão. Marcha ativa controlada (em passadeira ou solo):
A marcha precisa ser reintroduzida com foco na simetria e ativação consciente do glúteo e isquiotibiais, principalmente durante a fase de apoio terminal e balanço.
Fase 2: Recrutamento dinâmico e início da carga excêntrica controlada
Objetivo: Recrutar as fibras de forma ativa em amplitude segura, sem sobrecarregar o ponto de lesão.
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Exercício excêntrico bilateral com slider (toalha ou disco):
Execução: Em decúbito dorsal, elevar quadril (ponte), depois estender lentamente os joelhos deslizando os pés até quase a extensão completa, retornando com apoio manual se necessário.
Foco: Recrutamento excêntrico em cadeia fechada, sem exigir apoio total no membro acometido. Avanço excêntrico unilateral limitado:
Avanço (lunge) com ênfase no retorno à posição inicial, executado de forma lenta.
Progressão: De passivo → assistido → ativo.
Fase 3: Fortalecimento excêntrico específico e reintrodução funcional
Objetivo: Reintegrar força excêntrica plena e controle motor em amplitude completa.
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Nordic Hamstring (com adaptação):
Início: Com auxílio de faixas ou apoio parcial do tronco, reduzindo a carga excêntrica total.
Progressão: Aumentar gradualmente o ângulo de inclinação, diminuindo a assistência.
Justificativa: Evidência sólida demonstra que exercícios nórdicos reduzem recidivas por remodelar fibras musculares e aumentar rigidez funcional dos isquiotibiais. Stiff unilateral com halteres leves:
Foco clínico: Controle do tronco, ativação dos extensores de quadril e estabilidade do joelho.
Importante: Corrigir valgo dinâmico e manter o alinhamento da pelve.
Fase 4: Retorno esportivo e carga elástica
Objetivo: Transferir a força excêntrica e o controle motor para gestos dinâmicos, incluindo desaceleração e reatividade.
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Saltos horizontais com aterrissagem controlada (drop landing):
Treina força reativa, controle excêntrico e absorção de impacto.
Progredir para: saltos unilaterais e exercícios pliométricos em diagonal. Sprint em progressão (40–60–80–100%):
Corrida leve → aceleração moderada → estímulo de alta intensidade.
Critério: Sem dor no alongamento ativo, sem sensibilidade local à palpação e retorno da força simétrica nos testes manuais e isocinéticos (se disponíveis).
Considerações clínicas
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Recidiva não acontece por falta de alongamento, mas por retorno precoce sem controle excêntrico em alta velocidade.
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Testes funcionais como o Single Leg Bridge Test, Hop Test, e o controle na fase terminal do swing da corrida ajudam a avaliar a prontidão.
O tratamento deve ser ativo, progressivo e individualizado — repouso absoluto atrasa a cicatrização e favorece colágeno de má qualidade.
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