Entendendo os Modos Ventilatórios: Um Guia Prático para Fisioterapeutas
A atuação do fisioterapeuta na ventilação mecânica não se resume à execução de técnicas. Ela exige conhecimento profundo, tomada de decisão clínica e, acima de tudo, segurança. E o primeiro passo para uma conduta fisioterapêutica eficaz em pacientes ventilados é compreender os modos ventilatórios: como funcionam, quando usá-los e quais são seus efeitos sobre a mecânica respiratória.
Este guia prático foi escrito para fisioterapeutas que desejam dominar a ventilação mecânica na prática clínica hospitalar, com foco especial em UTIs e unidades de internação.
O que são modos ventilatórios?
Os modos ventilatórios são estratégias de controle do ventilador mecânico que determinam como o ar será entregue ao paciente: com que volume, pressão, frequência, tempo inspiratório e sob quais condições de disparo e ciclagem.
Eles são definidos com base em três parâmetros principais:
- Forma de disparo (trigger): como o ciclo respiratório é iniciado (tempo ou esforço do paciente)
- Variável de controle: o que o ventilador controla — volume ou pressão
- Critério de ciclagem: o que finaliza o ciclo inspiratório — tempo, fluxo ou volume
Os principais modos ventilatórios e suas indicações
1. Ventilação Controlada a Volume (VCV)
👉 Volume Control Ventilation
- O ventilador entrega um volume corrente pré-determinado.
- A pressão varia conforme a complacência pulmonar e resistência da via aérea.
- Indicação: pacientes com complacência pulmonar reduzida (ex: SDRA) onde se deseja garantir volumes fixos.
Atenção: risco de barotrauma se a complacência estiver muito baixa.
2. Ventilação Controlada a Pressão (PCV)
👉 Pressure Control Ventilation
- A pressão inspiratória é fixa, e o volume corrente varia conforme a mecânica pulmonar.
- Indicação: proteção pulmonar, principalmente em pacientes com risco de lesão induzida por ventilação.
- Atenção: o volume entregue pode ser insuficiente se a complacência piorar.
3. Ventilação com Suporte de Pressão (PSV)
👉 Pressure Support Ventilation
- O paciente inicia a inspiração e o ventilador oferece suporte com uma pressão positiva.
- Indicação: fase de desmame ventilatório e pacientes em respiração espontânea.
- Atenção: exige que o paciente tenha drive respiratório adequado.
4. CPAP (Continuous Positive Airway Pressure)
- Mantém uma pressão positiva contínua nas vias aéreas durante todo o ciclo respiratório.
- Usado em pacientes com respiração espontânea.
- Indicação: apneia obstrutiva do sono, edema agudo de pulmão, e como teste de desmame ventilatório.
5. SIMV (Ventilação Mandatória Intermitente Sincronizada)
👉 Synchronized Intermittent Mandatory Ventilation
- O ventilador entrega ciclos mandatórios sincronizados com os esforços do paciente, permitindo também respirações espontâneas.
- Pode ser usado com volume ou pressão como variável de controle.
- Indicação: transição do controle total para o desmame gradual.
Como escolher o melhor modo para o paciente?
A escolha depende de múltiplos fatores:
- Estado clínico e nível de consciência
- Força muscular respiratória
- Complacência pulmonar
- Resistência das vias aéreas
- Presença de lesão pulmonar aguda ou crônica
- Objetivo terapêutico (suporte total ou desmame)
O fisioterapeuta deve avaliar diariamente os parâmetros ventilatórios, identificar sinais de fadiga ou desconforto, e ajustar as estratégias conforme a resposta do paciente.
A importância da interpretação gráfica
Interpretar os gráficos de ventilação é essencial para detectar:
- Assíncronias
- Auto-PEEP
- Escape de ar
- Disparo ineficaz
- Dobro disparo (double triggering)
Essas alterações podem comprometer a eficácia da ventilação e gerar desconforto respiratório — e são responsabilidade do fisioterapeuta identificar e corrigir.
Dominar os modos ventilatórios é um dos diferenciais do fisioterapeuta que atua em ambiente hospitalar. Essa compreensão não só aumenta a segurança da intervenção, mas contribui diretamente para o desfecho clínico do paciente.
Se você quer se aprofundar ainda mais em ventilação mecânica, mobilização precoce, avaliação no leito, cuidados paliativos e muito mais, conheça o combo Mestre da Fisioterapia Hospitalar.
👉 Acesse agora. São eBooks completos para transformar seu raciocínio clínico e sua atuação profissional no ambiente hospitalar