Fisioterapeuta na UTI: Como Identificar o Momento Certo para o Desmame Ventilatório

 


Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o fisioterapeuta respiratório é um dos pilares do cuidado multidisciplinar. A atuação não se resume ao manejo de ventiladores ou à execução de manobras; ela exige julgamento clínico, conhecimento técnico e sensibilidade para perceber quando o paciente está pronto para dar um passo adiante: o desmame ventilatório.

Mas como identificar esse momento com segurança?

Neste texto, vamos discutir os principais critérios clínicos, fisiológicos e funcionais que orientam a decisão do fisioterapeuta. A proposta é aprofundar esse raciocínio e trazer ferramentas práticas para aplicar à beira do leito.

O que é o desmame ventilatório?

O desmame ventilatório é o processo gradual de retirada do suporte da ventilação mecânica invasiva, permitindo que o paciente volte a respirar espontaneamente. Esse processo exige uma avaliação criteriosa, pois o desmame precoce pode levar à falência respiratória, enquanto o desmame tardio aumenta o risco de pneumonia associada à ventilação mecânica, fraqueza muscular e prolongamento da internação.

1. Avaliação da causa da insuficiência respiratória

Antes de qualquer decisão, o fisioterapeuta deve compreender a etiologia que levou o paciente à ventilação invasiva. A causa foi resolvida ou está controlada? A insuficiência respiratória foi devido a pneumonia, exacerbação de DPOC, sepse ou trauma torácico?

A reversibilidade do quadro é um dos pilares do desmame. Se a causa primária está em resolução, temos o primeiro sinal verde.

2. Critérios clínicos básicos para considerar o desmame

Os principais critérios clínicos incluem:
  • Estabilidade hemodinâmica (PA e FC dentro da normalidade, sem uso crescente de vasopressores).
  • Boa oxigenação com FiO₂ ≤ 0,4 e PEEP ≤ 5–8 cmH₂O, com saturação ≥ 90%.
  • Ausência de febre persistente ou distúrbios metabólicos graves.
  • Paciente acordado, responsivo e com drive ventilatório preservado.
 Lembre-se: a presença de secreções traqueais em quantidade moderada não contraindica o desmame, desde que o paciente tenha tosse eficaz.

3. Avaliação da força muscular respiratória

A fraqueza muscular respiratória é uma das maiores barreiras ao sucesso do desmame. Avalie:

  • Índice de respiração rápida e superficial (RR/VT): valor < 105 ciclos/min/L é favorável.

  • Pressão Inspiratória Máxima (PImáx): deve ser superior a -20 a -30 cmH₂O.

  • Capacidade de gerar tosse eficaz.

A utilização da escala de Medical Research Council (MRC) para força global também é útil para detectar a Síndrome da Fraqueza Adquirida na UTI.

4. Teste de ventilação espontânea (TVE)

O TVE é o teste mais prático e amplamente utilizado. Ele permite avaliar a tolerância do paciente à respiração espontânea, geralmente por 30 a 120 minutos, com suporte mínimo (CPAP, T-piece ou pressão de suporte baixa).

Critérios para interromper o teste:

  • Frequência respiratória > 35 irpm
  • Saturação < 90%
  • Uso de músculos acessórios em excesso
  • Alterações hemodinâmicas
  • Ansiedade ou agitação intensa

Caso o paciente tolere bem, é possível considerar a extubação.

5. Análise do nível de consciência

A cooperação do paciente é essencial. Mesmo que o paciente não esteja completamente orientado, ele deve ser capaz de manter vias aéreas pérvias e responder a comandos simples.

Pacientes com Glasgow abaixo de 8, sem reflexos de tosse e deglutição, não são candidatos ideais à extubação, mesmo que outros parâmetros estejam favoráveis.

6. Avaliação do risco de reintubação

Mesmo com parâmetros adequados, o fisioterapeuta deve considerar fatores que aumentam o risco de falha do desmame:

  • Idade avançada
  • DPOC grave
  • Insuficiência cardíaca
  • Obstrução de vias aéreas superiores
  • Histórico de falhas anteriores de desmame

Esses fatores não contraindicam a tentativa, mas exigem vigilância estreita e protocolos bem definidos.

7. Comunicação com a equipe multiprofissional

O fisioterapeuta não toma decisões isoladas. A avaliação deve ser integrada com médicos, enfermeiros e fonoaudiólogos. A decisão pelo desmame precisa estar ancorada em consenso, segurança clínica e plano terapêutico compartilhado.

Vamos concluir?

O desmame ventilatório é um marco no processo de recuperação do paciente crítico. Saber quando iniciar esse processo é tão importante quanto saber como realizá-lo. Como fisioterapeuta, seu olhar deve ser clínico, analítico e humano. Você precisa dominar critérios, mas também reconhecer os sinais sutis que a máquina e o paciente entregam.

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